quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Viver a vocação é não deixar-se instrumentalizar


Um testemunho do Pe. Moacir Caetano da Silva...
As armadilhas da instrumentalização estão sempre a nossa frente. Os jovens são os mais atraídos e assediados por ela. Hoje, mais que em outros tempos o ser humano é incrivelmente instrumentalizado. As pessoas passam a agir segundo a cabeça dos outros ou então segundo as vozes artificiais das mídias que invadem nossas vidas. Diante desta realidade: Como ouvir o chamado de Deus que convida participar com ele através do ministério sacerdotal dos cuidados da vida para fazê-la multiplicar.  Assumir generosamente a vocação é saber: Por que existimos?  Para que estamos no mundo? É neste cenário que precisamos discernir nossa vocação e missão. O homem e a mulher foram criados livres e dotados de inteligência para não serem sujeitos passivos em nenhum processo, mas ativos e sujeitos no cuidado da criação que Deus nos confiou. Essa confiança que Deus depositou em nós, interpela para uma vivência encarnada da nossa vocação e missão no mundo que com suas estruturas tenta a todo custo nos instrumentalizar, ou seja, tornar-nos como simples peça que se descarta quando perde a utilidade. Viver nossa vocação é melhor forma de dizer ao mundo que ser humano tem dignidade maior e que, por está razão, não pertence a ele, mas está acima da sua materialidade.
As maiores vitimas da sede instrumentalizadora das estruturas do mundo são os jovens. Grupos fanáticos e materialistas exploram a generosidade, a carência afetiva, o idealismo e a fé dos jovens. Muitas vezes os jovens são motivados a fazer aquilo para o qual ainda não estão preparados, simplesmente para atender a sede capitalista do mercado e aos interesses de grupos que só visam o lucro na aproximação com o público jovem, impedindo o processo natural da maturação vocacional. É próprio dos jovens, não saber esperar, principalmente quando uma situação ou realidade é insuportável, querem rápida solução, não suportam esperar para ver. Esperar não é mesmo o forte da juventude. Os aparelhos de instrumentalização adoram esse jeito impulsivo e pragmático da juventude, de querer tudo agora, aproveitam disso, para inculcar neles suas ideologias instrumentalizadora e consumista.
Os jovens querem mudanças e, por isso, aderem ao primeiro que falar a sua linguagem. Esse é um grande desafio do jovem que busca discernir sua vocação. Como discernir, sem respeitar o processo natural das coisas e se não sabemos se a voz que chama é a voz de Deus ou a voz das estruturas do mundo. Muitas vezes o jovem confiante na sua ousadia, responde sem saber a quem, e por isso, corre o risco de responder a voz de quem não deveria. Muitas vezes é instrumentalizado sem saber quem o instrumentalizou. Diante deste perigo constante, se faz necessário uma verdadeira espiritualidade pessoal, de comunhão junto a Igreja doméstica (família), a Igreja comunidade (bairro), para ali alimentar-se da Palavra e da Eucaristia que fortalece na missão de cuidar da vida como resposta ao chamado.
Esse dilema do jovem de hoje, me faz reavivar na memória os dilemas que enfrentei 26 anos atrás, na busca de responder com sinceridade ao chamado de Deus. Envolvido com as coisas do mundo eu ouvia com mais facilidade as vozes de suas estruturas e muito pouco o chamado de Deus. Para discernir e responder ao chamado de Deus foi necessário muito esforço humano, apoio da família (Igreja domestica) da comunidade (Igreja Povo de Deus) e o cultivo de uma espiritualidade de comunhão e amizade sincera com Deus. Essa inquietação provocada pelo chamado de Deus misturado as vozes do mundo, traduzo através de uma cena real que vivi e que agora descrevo:
No fim de fevereiro e inicio de março do ano de 1994, motivado por meu catequista fiz uma primeira tentativa de ingresso no seminário. No dia marcado para estar lá, sai de casa logo cedo para ir até estrada principal distante 10 km para tomar o ônibus. Mesmo sem ter discernido entre a voz do mundo e o chamado de Deus, peguei a mala e tomei a estrada. Por várias vezes enquanto caminhava rumo ao ponto de ônibus a vozes das estruturas do mundo geravam a dúvidas em mim, faziam-me parar e decidir desfazer o trecho que havia percorrido. Enquanto retornava desfazendo o caminho percorrido o chamado de Deus provocava-me a retomar e não desistir do objetivo que era o seminário. Perguntava-me a mim mesmo: Como posso discernir se não tenho a clareza? Bem mais tarde essa pergunta gerou em mim a convicção de que quando não temos clareza de nossa vocação o mais importante é confiar e colocar-se em atitude de generosidade diante de Deus, que sabe o porquê e para que nos chama. Naquele momento faltava em mim confiança, atitude generosa de disponibilidade que só chega quando atingimos a maturidade vocacional. A falta destas virtudes me fez andar naquela estrada num ritmo sem sentido de avançar e em seguida retroceder, vendo o tempo passar para perder o ônibus e assim ter uma justificativa aos que acreditavam na minha vocação. A voz das estruturas do mundo falou mais alto em mim naquele ano e naquele dia. Instrumentalizado, preso as seduções próprias do mundo vi o ônibus passar, enquanto eu ficava ali parado... , achando ter tomado a melhor de todas as decisões.
O tempo passou e ao longo deste tempo deixei-me instrumentalizar e envolver pelo mundo. Quando pensava que a vocação ao sacerdócio tinha sido algo do passado, Deus novamente me surpreende fazendo-me ver que nunca deixou de chamar e que não havia desistido de mim. Chamando, fez-me perceber que não só o ônibus havia passado, mas também as seduções próprias do mundo. A maturidade vocacional foi crescendo e percebi pela inteligência com a qual Deus nos dotou, que por mais que o mundo instrumentalize as pessoas, não consegue matar a fé e a vocação presente nelas. Nós não pertencemos ao mundo e sim a Deus. Quem tem consciência disso tem o suficiente para uma resposta vocacional verdadeira.  Estamos no mundo para edificar o Reino e promover sua santificação, realizando a vontade de Deus que é a VIDA. Passei o ano que se seguiu no meio do mundo sem deixar de estar aberto ao chamado de Deus, colocando-me com servo disponível a sua vontade. Essa abertura e disponibilidade generosa fizeram-me ouvir com maior discernimento o chamado de Deus que tocou o coração e a mente de modo irresistível de modo que respondi a Deus e a mim mesmo assim: Se perder o ônibus seguirei a pé. Ninguém mais me segura,  somente Deus com quem fiz aliança. Ele é nosso Deus e nós somos o seu povo em missão.  
A voz do mundo não venceu e no ano de 1986, na segunda tentativa, ingressei no seminário. Foram longos anos de formação dos quais recordo com muitas alegrias e que ajudou a dizer SIM a Deus através da vida e missão sacerdotal. Os últimos 03 anos dos 14 de sacerdócio estão sendo dedicados à formação dos futuros padres da nossa diocese. Hoje com alegria posso dizer: Fazem 14 anos que ônibus passou e as dúvidas sumiram.  
Deus hoje CHAMA VOCÊ. Você tem dúvida? Confia, a Verdade e os planos de Deus para com você são maiores que as seduções do mundo.  
A messe é grande e precisa de operários”.

Venha ser padre, discípulo e missionário de Jesus Cristo na Diocese de Caçador. É bom demais viver a vocação sacerdotal, celebrar e alegrar-se com o Povo de Deus que chama

Deus abençoe os vocacionados (as) da Diocese de Caçador.

Pe. Moacir Caetano da Silva

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